1.
O céu se acanhou atrás de nuvens cinzas;
por um instante ,
difundiu-se no vento leve
umidecendo os amores de Vinícius ,
que dançavam ao som das franjas amarelas,
que como um espelho,
plageavam o movimento calmo das asas
brancas que plainavam. Ali, ausentes.
Os movimentos incolores, borravam o quadro e os
redemoinhos ilustravam a eminente catástrofe,
com os caminhos de areia que no ar se desenhavam.
Soprou o silêncio.
Aqueles de dar vontade de abraçar.
Novamente elas dançaram,
ansiosas
sabem que o amor não pode esperar.
A luz, antes cinza, acendeu
o azul intenso do céu
através de seus olhos,
quentes e lânguidos,
Inundando o silêncio com o esplendor de um arco-íris.
2.
Suas pegadas, pequenos espelhos d'água,
personificam seu caminhar iluminado, macio.
As franjas,
observam o seu vai e vem,
pelas brancas asas que tricotam o ar com
rasantes cortantes, livres,
cadenciado pelo ritmo de seus quadris.
As estátuas, de areia, desfazem-se,
não resistem ao corpo moreno,
molhado,
viram súditas,
preferem sentir as solas.
Sabem que o corpo perece na forma.
O calor de seus passos
dispersa a névoa branca,
com o mesmo rompante que o azul
expulsa o cinza.
3.
Eis que surge,
frontal
linda
com dois grandes de criptonita.
As palavras tentam,
querem ser maiores, exceder as franjas,
querem cantar seu violão.
Tontas e hipnotizadas tombam no espaço.
Os olhos sujos de areia,
marejados, por tanta beleza,
ficam inertes.
Ela passa.
As franjas se agitam, pela última vez,
querem dançar, olham nos olhos dela,
ela rejeita,
enfraquecemdo-as. Deixando-as murchas.
4.
Antes serenas,as ondas
agora apagam minha memória.
Fervorosamente,
dissolvem seu rastro
com espuma de bocas unidas.
Beijava os pés ou seria a alma ?
O suplício deixa seus olhos inatingíveis,
marca a respiração com o contorno inebriante de seu corpo
que brilha,
que só revela sua metade,
como se quisesse um duplo,
que vai.
O vento sopra.
As franjas, douram seus cachos.
No vazio, sem eco,
fica o hiato com as lembranças das franjas e do mar.
(Edu Coutinho)
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