quarta-feira, 31 de agosto de 2011



Vencilhada de tímido sentimento,
aproxima-se do aconchego do ser.
Entra leve e quente, 
sublimando os poros.  
A boca, sutilmente, agradece.

A inércia, agora, nada tem haver com a apatia, 
não vem em doses homeopáticas, 
não é medida.
A constância figura o abandono. Desleixo.

Não há luta contra  a gravidade, 
o corpo, abandonado  de presenças , 
se desfaz em ondas,
fica em águas profundas. 
Imerso. Disperso. 

Pela insustentável leveza,
anda nos limites e nas tangentes do ser,
dança o abismo do amor com a 
Dama da Noite. Iluminada.

Dançam também as franjas plumosas,
o contorno e caminho movediço da liberdade.  
O vento passa. 

Os poros, saturados, observam .
A frente vêem  a moldura
e contemplam desvencilhados de tímido sentimento 
o ávido cintilar da vida,
     
        (Edu Coutinho)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Banho de chuva


Agora é só o que me resta, a escrita, o café frio e a imensidão da escuridão. 
Lá de fora, não se enxerga muito aqui dentro. 
Nem notam, a fumaça que esvai, desenhando no espaço, 
espirais secos e cinzas. Tudo parece estar. 

Aqui dentro, onde a fumaça polui, a dúvida sufoca as possibilidades. 
Ou seria ansiedade ?  Como saber , se por direito, temos uma única opção ?  
Não falo das possibilidades das Duas vertentes;
Essas são menos exatas, por isso, mais amplas. 

Falo da coisa certa. Do caminho que as palavras caem do espaço.
Do caminho de pedras que é ser escolha. Nessas horas, que ecoa.
Eco-a a gota, a moça e o vazio dos gritos. 
Ressoa, pessoa sozinha. Poço sem fim. 

O ar falece, a fumaça contínua, dá o ritmo ao caminho, seja ele qual for . 
Teríamos uma linha ? Final ? Uma inicial ? Ou seria a mesma ? 
Faz diferença ? 
Que caminho a percorrer ? 

As pegadas, MARCA eterna dos que se registram, anunciam cada centímetro de palmo da sua terra, com a ferocidade de suas decisões, 
com a garra de seus desapegos, 
com a  gana de suas conquistas. 

Estar só, não é simplesmente caminhar desenfreadamente, 
querendo estar sozinho. É percorrer pedaços de você. 
Passear por praias desertas, frias e livres, pois são suas. 
Descobrir nas possibilidades, suas vertentes; Vertigens. 

Um minuto. 

A asfixia da fumaça , exprime com nuvens nos olhos, 
a dor de tal desapego: Ser ou não ser ? 
Chove aqui dentro. Ser dúvida é escolha; 
Desculpe, tenho que ir. 
Preciso tomar esse banho de chuva.

(Edu Coutinho)