quinta-feira, 25 de junho de 2015

Hoje quando acordei, andei até o jardim. A manhã  era serena, o capim, fresco . Acordei com rosas na cabeça. Botei a mesa do café. Frutas, sucos, pães e geléia de flores. Na maciez do capim acomodei-me. Quando notei, os raios do sol, espelhavam-se na fonte, que observava,minuciosamente, com seus olhos iluminados, o silêncio. Ela faz isso sempre as 8 da manhã. Calada, ela destituía meus sonhos, desprogramava a imaginação, com sutis esguichos de realidade, dando vida ao espelho. Laranjas, cerejas, amoras rolavam. Tudo caía. O jardim parecia ter vertigem. Ou era eu quem esmorecia ? O perfume rósea de suas manhãs, não adocicava mais o ambiente. O balanço, pendurado na cerejeira, oscilava, junto com o meu ir e vir. Devagar o rangido das correntes, pintavam todo o silêncio das minhas palavras. Uma a uma, elas fugiam do arrependimento de ficarem guardadas por todo esse tempo. O balanço era a pista de vôo. Catapultavam-se. Corriam junto ao  medo,  presente em todos os hiatos que marcavam a terra mole e barrenta como solas de sapatos. Essas danadas, descalças,queriam se contaminar com as lembranças das caminhadas matinais, dos cafés juntos. De tudo que existia além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus. Elas queriam, simplesmente, dizer a ela, que seus  sapatos ainda se encontravam embaixo da sombra dos piqueniques. Ela partiu, ou vai partir hoje? O vento passa, me abraça e borra com sua tinta fria o ar : De que adianta dois quartos, e uma sala gigantesca, quando se está sozinho em casa ?! Neste momento, o nó, esse músculo que da forma ao peito, aperta, como cano enferrujado no inverno. Bate os dentes da consciência e pronuncia : Anda por aqui algum homem vivo ?! O eco, percorre cada joelho, cada dobradiça da carcaça ruiva e velha. O motor, no seu quarto tempo, quer correr atrás do prejuízo, mas o ar em seus canos ilustra as primaveras passadas e o descuido. Nada mais resta, além do canto dos pássaros e algumas dezenas de palavras atravessadas na garganta. Petrificado e sem vida, a alma sai em devaneios inconscientes. Percorre  vontades e desejos. Coloca-me na frente do espelho. De frente. No reflexo, coração de pedra, a avareza pede socorre. A emergência, como um nada que é, é soprada pelo bule que chia suas explosões em bolhas de água. Por dentro esquenta. Tudo em ebulição. Um instante e saio locomotivamente expulsando meus vapores, que agora, não atrapalham as vistas, saem pelo canto dos olhos e por todas as interjeições de meu sujeito. Corre. Não sei porque. Talvez seja um ímpeto de vida. Talvez seja o medo, mas nada disso importa. Pois a morte comigo está de mãos dadas, em todos os meus passos. Chego. Encontro exatamente o que procurava. A passagem, solitária, para a morte, que dali não me levará. Os desejos acompanharam-me até ali. Um único olhar, a percepção do relógio, gigantesco, acima da cabeça, nenhum sorriso e muita vontade, de vômito, de ser prolixo, e nenhuma vontade de atritos interiores, mas as palavras pesavam minha garganta. Onde esta a coragem ? Eu sei o peso dessas palavras, caladas. Um instante. A primeira chamada, um segundo a menos. Será que a vida é agora ? Acabrunhado, enrolo-me, tento dizer o que é indizível. Questiono o medo. Por que ter medo de não ter coragem ? O vazio é o mesmo, o caminhar continua a ser sozinho. O que muda ? A vida, deve ser mais leve, dividida. A desconfiança, me segura ali. A consciência das limitações, mostra o êxito da saga de viver na beirada sem a audácia dos curiosos. A covardia da superficialidade, traz saudades apenas dos momentos físicos, pois o que está além, nunca foi vivido. Nunca me permiti pular do abismo, mesmo sabendo que jamais morreria. A segunda chamada. Tudo estava decidido do outro lado. Tinha um gostar que só exigia dispor-me. Do lado de cá, o arrependimento, a angustia de não ter dito e a morte pedindo carona. Cutucando meu ombro direito pergunta: Quem partiu ? Que diferença faz ? O vazio é o mesmo, o caminhar continua a ser sozinho e a satisfação de minhas superficialidades pesadas, beiradamente, realizadas. O sinal : a terceira e última chamada. Nada dito. Tudo vazio . Espasmos, nenhum reativo ! Anotou o nome e o número da cidade ? Muda alguma coisa ? E assim, indeferívelmente preta e branca, a materialização de meus anseios vai embora …
E agora ?!